domingo, 7 de novembro de 2010

Dívidas e burros (fábula portuguesa)

(Chico Villela) Foi solicitado a um prestigioso assessor financeiro que explicasse esta crise de uma forma simples, para que toda a gente pudesse entender as suas causas.

O seu relato foi este: Um certo cavalheiro foi a um aldeia onde nunca havia estado antes e ofereceu aos seus habitantes 100 euros por cada burro que lhe vendessem.

Boa parte da população vendeu-lhe os seus animais.

No dia seguinte voltou e ofereceu um preço melhor: 150 euros por cada burrico. E outro tanto da população vendeu-lhe os seus.

A seguir ofereceu 300 euros e o resto das pessoas vendeu os últimos burros.

Ao ver que não havia mais animais, ofereceu 500 euros por cada burrico, dando a entender que os compraria na semana seguinte. E foi embora.

No dia seguinte enviou o seu ajudante à mesma aldeia com os burros que comprara, para que os oferecesse a 400 euros cada um.

Diante do possível lucro na semana seguinte, todos os aldeões compraram os seus burros a 400 euros e quem não tinha o dinheiro pediu-o emprestado. De facto, compraram todos os burros do município.

Como era de esperar, este ajudante desapareceu, tal como o cavalheiro inicial. E nunca mais foram vistos.

Resultado: A aldeia ficou cheia de burros e endividada.

Até aqui foi o que contou o assessor.

Vejamos o que se passou depois.

Os que haviam pedido emprestado, ao não venderem os burros não puderam pagar o empréstimo.

Aqueles que haviam emprestado o dinheiro queixaram-se à municipalidade dizendo que se não recebessem ficariam arruinados; então não poderiam continuar a emprestar e todo o povo ficaria arruinado.

Para que os prestamistas não se arruinassem, o presidente da municipalidade, em vez de dar dinheiro às pessoas do povo para pagarem as dívidas, deu-o aos próprios prestamistas. Mas estes, já cobrada grande parte do dinheiro, entretanto não perdoaram as dívidas do povo, que continuou endividado.

O presidente dilapidou o orçamento da municipalidade, a qual também ficou endividada.

Então pede dinheiro a outras municipalidades. Mas estas dizem-lhe que não podem ajudá-lo porque, como está na ruína, não poderão receber depois o que lhe emprestarem.

O resultado: Os espertos do princípio, enganados.

Os prestamistas, com os seus ganhos resolvidos e um monte de gente à qual continuarão a cobrarem o que lhes emprestaram mais os juros, apropriando-se inclusive dos já desvalorizados burros que nunca chegaram a cobrir toda a dívida.

Muita gente arruinada e sem burro para toda a vida.

A municipalidade igualmente arruinada.

O resultado final?

Para solucionar tudo isto e salvar todo o povo, a municipalidade baixou o salário dos seus funcionários.

fonte: http://novae.inf.br

sábado, 18 de setembro de 2010

Mitos e Fatos IV

13 DIAS ATÉ 3 DE OUTUBRO

PRESIDENTE LULA MOBILIZA 30 MIL PESSOAS EM CAMPINAS E CONVOCA A RESISTÊNCIA AO GOLPISMO MIDIÁTICO

aspas para o Estadão, 17-09: "... o Largo do Rosário, na região central de Campinas foi tomado por cerca de 30 mil pessoas... Apesar do esquema para proteger Lula, muitos prédios comerciais no entorno estavam abarrotados de curiosos nas janelas. Um limpador de janelas parou o que estava fazendo na marquise de um prédio ,ao lado do palco, quando Lula começou a discursar...." Aspas para o discurso do Presidente:

"...nós não vamos derrotar apenas os blocos adversários tucanos, nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não têm coragem de dizer que são partido político e têm candidato...Eu estive lendo algumas revistas que vão sair essa semana, sobretudo uma que eu não sei o nome dela. Parece "óia” ... destila ódio e mentira. Ódio...Tem dia que determinados setores da imprensa brasileira chegam a ser uma vergonha. Se o dono do jornal lesse o seu jornal e o dono da revista lesse a sua revista, eles ficariam com vergonha do que eles estão escrevendo exatamente neste instante. E eles falam em democracia... Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública...Eles não suportam escrever que a economia brasileira vai crescer 7% este ano, não se conformam é que um metalúrgico vai criar mais emprego que presidentes elitistas que governaram este País.Não tem nada que faça um tucano sofrer mais do que a gente provar que eles têm um bico muito grande para falar e um bico pequeno para fazer..."

(Carta Maior apoia ato no Sind. dos Jornalistas, dia 23, contra o golpe; 19-09)

Fonte:www.cartamaior.com.br

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

As opções para 2011!

Há várias alternativas em jogo no debate sobre a política econômica. A ortodoxia de viés monetarista é apenas uma delas. De preferência, aquela que deveria ser descartada, caso a intenção seja a busca do desenvolvimento sócio-econômico e a redução das elevadas desigualdades ainda existentes em nosso País.

Paulo Kliass

Quem nunca ouviu falar nos inúmeros tipos de risco, supostamente envolvidos com alguma possibilidade de mudança nas regras de enriquecimento fácil no mercado financeiro? São vários os exemplos, tais como: “risco país”, “risco Brasil”, “risco Lula” (lá atrás na eleição de 2002..), “risco Evo Morales”, “risco Chavez”, “risco Grécia”e tantos outros. Os chamados “analistas do mercado”, que normalmente são chamados a dar suas opiniões aos jornalistas dos grandes meios de comunicação, gostam de deitar sua falação a respeito do tema. E disparam na linha da ameaça e da chantagem – se quiser mexer na ordem das coisas, cuidado, que o risco é grande...

O risco de buscar a rediscussão do volume e origens da dívida pública, externa ou interna – atitude que é imediatamente taxada de “calote”, medida irresponsável e perigosíssima. O risco de promover mudanças na política cambial, apesar de todos saberem que a taxa de câmbio está valorizada de forma artificial. O risco de promover discussão a respeito dos procedimentos e tarifas dos setores que envolvem serviços públicos, por licitação ou concessão, como as telecomunicações ou a energia elétrica. O risco de se alterar a orientação da política monetária, para reduzir o patamar da taxa de juros. Em resumo, a cada “ameaça de mudança”, articula-se a defesa os interesses dos poderosos e ela se faz ouvir com um brado uníssono: é preciso respeitar os contratos! Não importa se os mesmos sejam ilegais, imorais, anti-éticos ou prejudiciais aos interesses do País e da maioria de sua população.

Uma rápida consulta ao dicionário Houaiss, nos dá algumas indicações para o significado do substantivo “risco”. Ali podemos ver “probabilidade de perigo, geralmente com ameaça física para o homem e/ou para o meio ambiente”, ou ainda “probabilidade de insucesso, de malogro de determinada coisa, em função de acontecimento eventual, incerto”. Por outro lado, o conceito de risco é também típico do mercado financeiro e de seguros, pois tem sua origem em algum tipo de avaliação estatística. No fundo, é uma probabilidade de ocorrência de algum evento, que pode significar algum ganho ou perda de natureza econômica ou financeira. E a coisa mais louca é que o próprio mercado financeiro encara essa incerteza como fonte de ganhos e especulações. E dá-lhe criação de novos “produtos’ (os operadores adoram esse eufemismo), para tentar reduzir os tais riscos. Ficou com medo de alguma mudança na política cambial? Dá-lhe a comprar títulos de câmbio no mercado futuro. Está receoso com a bolha dos preços no mercado imobiliário? Dá-lhe a repassar os perigosos contratos impagáveis de hipoteca para frente, como na recente crise do mercado financeiro norte-americano.

No entanto, a intenção desse artigo é justamente mudar o foco de preocupação do tal do “risco”. Não mais os riscos de perda econômica tão temidos pelos agentes do mercado financeiro, em função de algum tipo de mudança na esfera da política. E sim buscar compreender e avaliar os riscos a que estaria sujeito o Brasil e a maioria de sua população caso determinadas opções de política econômica fossem assumidas ou continuadas pelo próximo governo.

Apesar dos desmentidos públicos da candidata, algumas propostas de condução de política econômica já começaram a circular pelos espaços dos poderosos. Como os debates têm se pautado por uma avaliação dos resultados obtidos ao longo dos 2 mandatos de Lula, praticamente não tem havido discussão a respeito do que se pretende fazer ao longo dos próximos anos. Em termos genéricos, fala-se em dar continuidade ao trabalho feito até agora. No entanto, quando as questões concretas começam a surgir, vemos que as algumas preocupações começam a fazer sentido.

O primeiro conjunto de fatores e propostas refere-se a tudo aquilo que, por mais uma vez, corre o risco de deixar de ser feito. Já se passaram mais de 8 anos desde o lançamento da famosa Carta aos Brasileiros, quando o então candidato Lula buscava apaziguar os ânimos das chamadas “forças do mercado” e antecipava aquilo que seria a marca de em sua gestão na área da Fazenda durante o primeiro mandato. Ortodoxia absoluta nas opções de política econômica, inclusive na nomeação de alguns de seus principais assessores. E o governo deixou de implementar um conjunto de medidas que, até então, eram esperadas pela maioria. Não foi proposta uma reforma tributária para tornar nosso sistema de impostos menos regressivo. Caso continue assim, não apenas os mais pobres continuarão a pagar mais impostos em termos relativos, como a previsão do art. 153 da Constituição Federal de implantação do Imposto sobre Grandes Fortunas deverá ficar mais uma vez adiada para as calendas gregas. O mesmo pode ser dito a respeito da estruturação séria dos mecanismos de cobrança do Imposto Territorial Rural das grandes propriedades do campo. Apenas a título de comparação, o total arrecadado de ITR em todo o território do Brasil é de R$ 420 milhões, enquanto o total arrecadado de IPTU apenas no município de São Paulo é de R$ 4 bilhões.

Um dos grandes riscos da continuidade refere-se à manutenção ou mesmo ampliação do esforço para alcançar o superávit primário, superior a 3% do PIB. Ou seja, a criminosa prática de forçar a redução das despesas orçamentárias na área social, para encaminhar um caminhão de dinheiro para o pagamento de juros da dívida pública, que se aproxima a R$ 1,7 trilhão. Já há quem comece argumentar no mercado financeiro que, caso o crescimento do PIB para 2010 realmente se aproxime dos 7%, o Banco Central deverá aumentar a taxa SELIC. E para pagar os juros derivados de tal decisão, a “única” solução seria a tão propalada “austeridade fiscal”.

Tradução: corte nas despesas públicas na área social ! Sim, porque segundo essa lógica perversa, os R$ 170 bi previstos no orçamento da União de 2011 para pagamento de juros são intocáveis, pois evidenciariam um gasto público eficiente e produtivo (sic). Já as despesas com saúde, educação, previdência e que-tais, bem, essas têm de ser discutidas muito seriamente!

Outro risco grave que o País corre é a manutenção da política cambial tal como a atual. Com a enorme atratividade proporcionada pela remuneração extraordinária da taxa SELIC a 10,75% ao ano, o afluxo de capital especulativo externo e de curto prazo continua muito elevado. Com isso, há uma quantidade enorme de dólares entrando no País por essa via e a nossa taxa de câmbio continua artificialmente valorizada. Com um discurso hipócrita e demagógico contra o suposto “câmbio administrado” e contra qualquer medida que possa alterar tal “equilíbrio natural das forças da oferta e da demanda”, as chamadas “fontes do mercado” propõe-se deixar tudo como está. Ou seja, continuar a prejudicar as exportações brasileiras no exterior e a estimular todo tipo de importação do resto do mundo. E o mais triste é que a solução é relativamente simples. Basta assumir a coragem política de desestimular essa entrada de capital especulativo de curto prazo. O País não precisa dele – aliás, muito pelo contrário! O recurso externo que quiser vir para cá, é sempre bem vindo. Mas é necessário que se comprometa com uma permanência mínima ou então que se sujeite ao pagamento de algum tipo de tributo. O ingresso de recursos será, então, mais realista e menos impactado pela especulação pura e simples. Com isso, a taxa de câmbio do nosso real sofrerá uma desvalorização natural, com o estabelecimento de um novo ponto de equilíbrio menos fantasioso.

Outro risco envolvendo o sistema financeiro é o não enfrentamento da prática de “spreads” elevadíssimos – aliás, somos campeões mundiais também nesse quesito. Os bancos oficiais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, deveriam ser estimulados pelo Ministro da Fazenda - a quem estão subordinados - a praticarem taxas mais adequadas à necessidade nacional e não na perspectiva de competir com as instituições da banca privada. Exatamente por serem as maiores instituições financeiras do País, caso mudassem sua prática para taxas e tarifas mais reduzidas, com toda a certeza forçariam seus concorrentes a seguirem o mesmo caminho. Mas não foi à toa que o ex-presidente internacional do Bank of Boston, Henrique Meirelles já está por quase 8 anos à frente do órgão que deveria, em tese, regular e fiscalizar o mercado financeiro – o Banco Central.

Outro ponto sensível refere-se à condução a ser dada a um processo que foi cautelosamente engavetado há 4 anos. Trata-se da medida de liberalização de um setor altamente rentável do mercado financeiro: o resseguro. O desenho institucional em nosso País sempre apresentou uma entidade pública federal que monopolizava tais operações, o Instituto de Resseguros do Brasil – IRB (1), desde a sua criação por Getúlio Vargas. Durante o primeiro mandato de Lula optou-se por abrir o mercado para os grupos privados, inclusive os 4 gigantes oligopolistas que dominam o mercado internacional. E a intenção era “preparar” o IRB para ser privatizado. As mudanças no Ministério da Fazenda colocaram tal projeto em banho-maria, mas é sempre bom ficar atento, pois continuam enormes as pressões para oferecer esse maravilhoso filé à gulodice do ganho fácil desse setor do sistema financeiro.

Finalmente, outra preocupação surge quando o tema é a Previdência Social. As idéias que setores do mercado financeiro sempre apresentaram como solução para o nosso sistema público de pensões e aposentadorias são polêmicas e perigosas. Logo no início do primeiro mandato, conseguiram convencer Lula a encaminhar aquelas propostas de reforma previdenciária, que provocaram alto custo político para o governo e acabaram sem trazer nenhum retorno positivo, nem mesmo na esfera das finanças públicas. Como a lógica era apenas a das “maldades”, a reação social foi de tal ordem que o governo optou por nem implementar as necessárias medidas de regulamentação. Em seguida, surge uma outra panacéia para resolver o chamado “déficit crônico” do INSS. Tudo muito “simples”: bastaria mudar a fonte de financiamento da Previdência Social, as fontes de receita – e pronto! Ao invés de incidir sobre a folha de pagamento, a parcela de contribuição das empresas seria obtida a partir de uma alíquota a incidir sobre o faturamento das mesmas. Um verdadeiro salto no escuro, muito arriscado. E seria também uma ótima maneira de fugir do debate, uma forma de não enfrentar as contas da Previdência. Certamente que o sistema necessita aperfeiçoamentos (pretendo escrever um artigo apenas sobre esse tema). A pirâmide demográfica tem mudado ao longo das últimas décadas: a população tem vivido mais (essa conquista social é vista como um problema pela ótica estreita dos financistas) e a participação das gerações mais novas é menor em relação ao passado recente. No entanto, é preciso chamar a atenção para o fato de que os números divulgados mensalmente a respeito de um suposto “déficit insustentável” do INSS precisam ser melhor explicados. Ali estão incluídas as despesas com o sistema da aposentadoria rural, por exemplo. E essa foi uma importante e justa decisão da Constituinte de 1988. Qual seja, de reconhecer o direito dos trabalhadores do campo aos benefícios do sistema previdenciário e promover sua inclusão – uma questão de cidadania. Assim sem ter contribuído para o INSS, eles e suas famílias passaram a usufruir de aposentadorias e pensões de 1 salário mínimo, que não são a causa da tão alardeada “quebra” da previdência. Por outro lado, há dezenas e dezenas de bilhões de reais que não entram no caixa do Tesouro por sonegação ou fraude das empresas. Há outro tanto que não entra por que algumas empresas e instituições contam com benefícios especiais de isenção ou são consideradas filantrópicas. Tudo isso provoca redução de receita, mas não pode ser considerado como culpa do INSS! A questão é bem mais complexa e as soluções devem ser bem amadurecidas e discutidas antes de implementadas.

Com o resultado das eleições praticamente definido, cabe esperar que as opções a serem feitas pela futura Presidenta não contribuam para se perder outra oportunidade histórica. Para todas as questões a serem enfrentadas na área da política econômica, todos sabemos que há várias alternativas em jogo. A ortodoxia econômica, de viés monetarista, é apenas uma delas. De preferência, aquela que deveria ser descartada, caso a intenção seja a busca do desenvolvimento sócio-econômico, a melhoria das condições de vida da maioria da população e a redução das elevadas desigualdades ainda existentes em nosso País.

(*) Doutor em economia pela Universidade de Paris 10 (Nanterre) e integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.

NOTA
(1) http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3483

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

fonte: http://www.cartamaior.com.br

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Diminuiu a distância do rico para o pobre. Que horror !, disse o jn



O jornal nacional transformou o Brasil num Haiti ao tratar dos resultados – brilhantes ! – da PNAD, do IBGE.

O jornal nacional descreveu um país miserável, desempregado, analfabeto, que vive sentado numa vala negra.

Uma desgraça !

O amigo navegante sabe muito bem que a realidade (a PNAD) é outra.

Tanto que o Zé Baixaria vai pedir à Dra. Cureau para investigar por que o Lula vazou a PNAD pouco antes da eleição.

(Por falar na Dra. Cureau: por que será que o PiG (*) ignorou quando ela jogou água na fervura no Golpe do sigilo ? É incompreensível, não, amigo navegante ?)

Segundo Marcelo Neri, economista do Centro de Políticas Sociais da FGV-Rio e responsável pelos estudos mais consistentes sobre a “nova Classe C”, “a melhor boa nova pnadiana” é que melhorou a distribuição da renda.

A renda per capita cresceu.

A renda dos 40% mais pobres cresceu 3% contra 1% dos 10% mais ricos.

Ou seja, a desigualdade continua em queda. (O Índice de Gini, que mede a desigualdade, caiu 0,7% (**)).

“Após a recessão do primeiro ano do Governo Lula até 2008, 19,5 milhões de pessoas saíram da pobreza … adicionamos no ano passado mais 1 milhão … A taxa de pobreza cai de 16% para 15% da população, uma queda de 4%.

Que horror !

E olha que o Marcelo Neri não é petista (até onde esse ordinário blogueiro pode perceber).

Basta aguardar uma pesquisa que Neri tem no forno: como anda a nova classe média brasileira.

Em nome da estabilidade física e mental do Zé da Baixaria seria recomendável que o Neri divulgasse esse novo estudo sobre a “Classe C” – que os tucanos pensam que é uma classe entre a “Business” e a “Econômica” – só depois do dia 4 de outubro.

Mais ou menos na mesma data em que o Amaury lançar o livro – “Os Porões da Privataria” - sobre a relação da filha do José Serra com a irmã do Daniel Dantas, sócias – como mostram esses documentos - num empreendimento na Brickell Av, em Miami (em Miami !).


Paulo Henrique Amorim

Em tempo: patético é o titulo da primeira página do Globo: “O país de Lula: esgoto em baixa, consumo em alta”. Engraçado. Por que então o candidato do redator da primeira pagina do Globo não tem 54% do tracking da Vox ?


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Quando o William Bonner explicou ontem o que era o Índice de Gini a televisão lá de casa deu um estalo e quase se arrebenta. Ah, essa “falsa cultura !” – diria o Millor.

fonte: http://www.conversaafiada.com.br

domingo, 29 de agosto de 2010

Um ex-morador de rua, Sebastião Nicomedes


Sebastião Nicomedes de Oliveira, natural de Assis, interior de São Paulo, perdeu os pais aos 12 de idade. Foi criado por uma irmã missionária de voto perpétuo, abandonou a Escola de Aprendizes-Marinheiros, virou churrasqueiro de churrascaria, pedreiro de obra, saqueiro da Zona Cerealista e morou na rua por quatro anos.

Poeta e escritor, viajou por cidades brasileiras como um mendigo para narrar os infortúnios de quem vive em situação de rua no Brasil em um livro chamado “O homem sem país”. Sebastião escreveu também um monólogo chamado “Diário de um Carroceiro".

Leia 'Cumplicidade', de Sebastião Nicomedes

'Cumplicidade' está no livro "Cátia, Simone e outras Marvadas". É o primeiro livro do ex-morador de rua Sebastião Nicomedes.

Cumplicidade

A pinga pede o corpo
que pede o chão
que pede o corpo
que pede a pinga
se o corpo cai
equilibra a pinga
que o chão evita
que se derrame
que a pinga prende
o corpo ao chão
que se levantar
evita a pinga
que pede o corpo
que pede o chão
que pede a pinga
e se reerguer o mendigo
a indústria da miséria entra em falência
porque a pinga gera impostos
porque o corpo que bebe
caindo ao chão não incomoda.

Contato com o autor, Sebastião Nicomedes: nicomedesoliveira@hotmail.com

Abertura da Copa será no novo estádio do Corinthians, em Itaquera


O Lula não fala inglês.

O Lula é nordestino.
O Lula é metalúrgico.
O Lula não tem um dedo.
E comeu o Serra com farofa.

O Lula esperou o Serra carregar a cruz de a Copa não abrir em São Paulo.
O Serra e os postes do Serra diziam que não tinham dinheiro para reformar o Morumbi, na Zona Sul, o bairro dos ricos, nem construir um novo estádio num bairro de pobres.

O Lula esperou a elite dizer que não queria abrir a Copa.
Abrir a Copa é aspiração de pobre.
Depois que o Serra, seus postes e a elite de São Paulo, foram eliminados da Copa, o Lula comeu eles todos com farofa.

Vai construir um estádio para o Coringão, para a galera, para o povão, numa região que o prefeito e Governador José Serra desprezaram: a Zona Leste.
É lá que ficam o Jardim Romano alagado, e o Jardim Pantanal de onde os nordestinos, de preferência, deveriam ser enxotados.

Se a Dilma ganhar no primeiro turno, o Lula desembarca em São Paulo com a camisa do Corinthians e leva o Mercadante, na garupa, para o Palácio dos Bandeirantes.
Tudo isso porque o Lula não fala inglês.

Paulo Henrique Amorim

fonte: http://www.conversaafiada.com.br

domingo, 22 de agosto de 2010

O que há por trás do debate do petróleo


Reivindicação constante do movimento social, o monopólio da exploração do petróleo ganha sustentação concreta em dados recentes

20/08/2010
Alessandra Murteira
e Leandro Uchoas
do Rio de Janeiro



Desde a descoberta do pré-sal, em 2008, a discussão sobre o papel socioeconômico do petróleo no Brasil tornou-se, além de mais complexa e importante, mais polêmica. A devastação neoliberal dos anos 90 trouxe ao país o modelo predatório da concessão. Através dele, recursos vêm escorrendo pelo ralo durante uma década. A atual gestão do governo federal propõe a mudança para o modelo de partilha, que permitiria ao Estado recuperar parte da capacidade de exploração. Entretanto, os movimentos que orbitam em torno da campanha “O Petróleo tem que ser nosso” defendem uma soberania maior. Segundo eles, apenas o monopólio estatal possibilitaria a garantia de melhor gestão dos recursos, gerando desenvolvimento e avanço social. Para os que acompanham o debate, essas informações não são novidade. O que há de novo são números recentemente divulgados que dão sustentação à argumentação das organizações sociais.


Os dados históricos são aterradores. Nos últimos onze anos, já foram realizados nove leilões, sendo que as decisões tomadas no penúltimo estão sendo contestadas judicialmente. Ao todo, 691 blocos para exploração de petróleo e gás natural foram vendidos, a R$ 7,8 milhões (preço médio). O bloco BMS-11, onde se encontram os campos de Júpiter e Iara, é o exemplo maior das perdas do país com os leilões. Foi leiloado por 7,6 milhões de dólares há dez anos. O petróleo lá encontrado nesse período teria um valor estimado 74 mil vezes maior – 560 bilhões de dólares. Sócia da Petrobras na compra, a BP – grupo britânico responsável pela tragédia ambiental no Golfo do México – terá direito a 87,5 bilhões de dólares desse montante. A empresa pagou apenas 1,9 milhão de dólares no leilão de 2000.



Caminho inverso

O exemplo brasileiro – e de vizinhos latinoamericanos – vai na contramão da tendência mundial. Em outros países, o caminho da exploração, desenvolvimento e produção de energia fóssil, há mais de meio século, ruma para um maior protagonismo estatal. Nos anos de 1970, as transnacionais controlavam 85% das reservas, enquanto as estatais tinham apenas 1%. Na década seguinte, a participação das estatais já havia subido para 59%, enquanto as corporações ficavam com apenas 12%. Há quatro anos, as estatais tinham 77% – as transnacionais 6%. “O caminho observado no mundo, do privado para o público, foi o inverso do observado no Brasil e nos demais países da América Latina, da privatização, resultado da implantação das políticas neoliberais”, afirma Henrique Jaguer, economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (Dieese).


Alguns críticos da exploração brasileira do pré-sal afirmam que o Brasil estaria na contramão de Estados Unidos e Europa, que teriam suspendido temporariamente a prospecção de novas reservas de petróleo. Para Henrique, os críticos seriam “lobistas das empresas privadas, que trabalham diuturnamente contra o aumento da participação do Estado no controle de nossas reservas de petróleo”. A exploração de petróleo no Mar do Norte começou na década de 1950. A maior parte das reservas de então já foram exploradas. A produção no local estaria em decadência mais pela exaustão das reservas do que por preocupação ambiental. O caso brasileiro seria diferente até mesmo pela necessidade maior de desenvolvimento social, que poderia ser alavancado a partir da exploração sustentável dos recursos da energia fóssil.



Estado protagonista

Para João Antônio de Moraes, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o país não pode reduzir seu papel ao de mero regulador. O Estado brasileiro, para ele, deve buscar ser protagonista por completo do setor energético. “Nós consideramos que a energia é estratégica, particularmente o petróleo. Ele é a base de mais de quatro mil produtos que usamos em nosso dia-a-dia. O recurso está se exaurindo, e o consumo crescendo. E isso torna muito complicada a situação da humanidade”, diz. O constante crescimento dos dois países que têm uma população somada equivalente à metade da mundial, China e Índia, só faz aumentar a preocupação com a produção de petróleo.


Em menos de meio século, segundo os analistas mais otimistas, já não será mais possível aos países manter o atual padrão de consumo. Portanto, conceber o modelo ideal de exploração e produção, nos próximos anos, torna-se elementar. “Se antigamente já era estratégico, hoje é ainda mais. As empresas privadas que produzem esta riqueza têm muito mais compromisso com as nações que detêm os seus capitais do que com as nações onde elas operam. A quem servirá a Shell, a Exxon e a BP quando o petróleo for muito mais disputado do que é hoje? Por isso defendemos uma Petrobras 100% estatal e pública. Petróleo não é mercadoria, petróleo é um bem social, petróleo é soberania”, afirma Moraes.



Mais controle

Os dados da tragédia provocada pela BP no Golfo do México também têm sido tomados como exemplos para a postura do Estado e das empresas no futuro. O maior desastre ambiental da história da América do Norte não apenas manchou a imagem da transnacional britânica, mas também trouxe à tona uma série de novos questionamentos. Um deles é a distância da voz dos trabalhadores da mesa de decisões. Uma série de documentos recentemente divulgados revela que o desastre já havia sido amplamente anunciado por sindicatos. “A segurança tem que sair das páginas dos relatórios sociais e virar atitude concreta. Esta indústria não pode continuar matando trabalhadores e poluindo o meio-ambiente”, afirma Henrique.


Informações reveladas pela própria BP colocam o Brasil em décimo lugar no mundo em exploração de energia fóssil. Atualmente, o país consome 228.100.000 toneladas de óleo, 2% do total no mundo. O índice de consumo por habitante, entretanto, está bem abaixo daquele dos países de maior consumo – 1,16 tonelada por habitante, enquanto o Canadá e os Estados Unidos, maiores consumidores, têm 9,93 e 7,56, respectivamente. A China, embora tenha um consumo per capita pouco superior ao do Brasil (1,51), fica atrás apenas dos Estados Unidos em consumo – nove vezes maior que o índice brasileiro. Os estadunidenses também lideram o ranking dos deficitários em energia fóssil, seguidos pelo Japão em segundo e pela China em terceiro.

domingo, 11 de julho de 2010

Copa: futebol, racismo e política

Reproduzo artigo de Beto Almeida, diretor da Telesur, publicado no sítio Carta Maior:

Vai chegando ao final a primeira Copa do Mundo de Futebol realizada na África. Talvez a frustração da torcida brasileira, combinada com uma destramelhada cobertura midiática, - que exortou sentimentos racistas contra paraguaios e de hostilidade gratuita contra argentinos - não tenha permitido compreender que o simples fato da Copa ter sido na África do Sul é uma grande vitória contra o racismo internacional e contra as grandes potências capitalistas que tentaram boicotar ou desmoralizar os africanos.

Mas, sobretudo, é a vitória de um país e de um povo que sequer participou da Copa. Cuba, que ao derrotar o exército racista sul-africano em Cuito Cuanavale, Angola, para onde enviou 400 mil soldados, deu o passo fundamental para a libertação da África do Sul. “A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do apartheid. E isto devemos a Cuba”, disse Mandela, após ser liberado de 27 anos de prisão. A torcida mundial deveria ser amplamente informada destas verdades.

Quando Lúcio, o aplicado capitão da seleção canarinho, leu mensagem condenando o racismo antes daquela fatídica partida contra a Holanda, talvez não pudesse medir o grande alcance de seu gesto, que nos obriga a recuperar um fase da história recente. Condenar ali mesmo o racismo era imperioso pois era respeitar aquele povo e também alertar para as novas expressões racistas que estão se projetando em outros países, inclusive países que estavam ali disputando o certame.

Sob o apartheid não haveria Copa

O certo é que a Copa do Mundo só estava se realizando ali em território sul-africano porque milhares de seres humanos deram suas vidas contra o animalesco regime do apartheid, que com o apoio de países como Estados Unidos e Inglaterra, principalmente, massacrou de maneira cruel a pátria de Mandela. A África do Sul racista, imperialista, ditatorial, que foi recebendo sanções internacionais quanto mais crescia a resistência popular em seu interior e mundo a fora, levando-a a receber algumas sanções internacionais, jamais poderia ser a sede de uma Copa do Mundo se estivesse sob o apartheid.

Queremos, portanto, estender a oração do capitão Lúcio para fazer justiça a um povo que não estava disputando a Copa, mas que foi fundamental para que a Copa ali se realizasse para alegria e orgulho da nova África do Sul. A declaração de Lúcio tem raízes na história da solidariedade revolucionária que Cuba ofereceu á África, a começar pelo envio de médicos para a apoiar a Revolução na Argélia, onde esteve trabalhando o próprio Che Guevara.

Enquanto Mandela ainda estava preso, Cuba já estava apoiando os vários processos de libertação em território africano. Libertação que veio a receber um grande impulso a partir da Revolução dos Cravos, em Portugal, liderada por jovens capitães, muitos deles egressos das então colônias portuguesas em território africano, onde aprenderam muitas lições de dignidade por parte daqueles povos a quem deveriam esmagar. Houve capitães que mais tarde relataram que em território angolano se convenceram que a razão da história estava com os guerrilheiros angolanos. Por isso mesmo, chegavam a organizar certas incursões pelas selvas, onde deixavam deliberadamente suas armas para serem recolhidas pelos soldados do Movimento Popular para a Libertação de Angola, simulando que haviam sido desarmados, quando estavam a dizer, com aquele gesto, que apoiavam a causa da libertação africana.

Estes gestos dos militares portugueses floresceram em Cravos Vermelhos pelas ruas de Lisboa, após soarem os primeiros acordes da canção “Grândola, Vila Morena”. A razão histórica venceu! Não sei se o capitão Lúcio, na sua juventude de uma vida dedicada ao futebol, teve oportunidade de informar-se sobre isto antes de ler aquela importante declaração contra o racismo, num gesto de grandeza da nossa seleção.

Cuito Cuanavale: começo do fim do apartheid

Quando Cuba atendeu ao chamado do presidente angolano, o médico, poeta e guerrilheiro Agostinho Neto, para que enviasse ajuda militar para assegurar a libertação de Angola, conquistada em 11 de novembro de 1975, com pronto reconhecimento de Brasil e óbvia contrariedade dos EUA, abria-se uma nova página na história da África, mas também da solidariedade internacional.

A hipocrisia e a malignidade intrínseca da mídia comercial não deu a conhecer aos milhões de torcedores do mundo inteiro de olhos magnetizados no televisor uma linha sequer desta luta heróica para derrotar o apartheid e permitir, afinal, não apenas a libertação de Angola e da Namília, mas também de Nelson Mandela e a erradicação total do regime racista, derrotado no campo militar em Cuito Cuanavale e, mais tarde, novamente derrotado pelos votos que elegeram Mandela seu primeiro presidente da república, o primeiro com legitimidade!

Não tínhamos nenhuma dúvida da bravura e da grandeza do gesto do povo cubano ao fazer a travessia do Atlântico no sentido contrário àquela rota feita pelos navios negreiros que vieram para o Brasil e também para o Caribe, nos unindo para sempre na dor, no sangue, na música, na cultura e também no compromisso de saldar esta imensa dívida que toda a humanidade tem para com os povos africanos. Porém, Cuba decidiu pagar antes de todos e para lá enviou 400 mil homens e mulheres, negros e brancos, inclusive a brancura da filha de Che Guevara, que também já havia lutado em Cabinda, enclave angolano próximo ao Congo.

O médico brasileiro Davi Lerer estava exilado em Angola naquele período, ensandecido de solidariedade e de compromisso com a libertação angolana. Foi quando começou a perceber que alguns dos feridos de guerra por ele tratados, falavam espanhol. Era fruto da Rota do Atlântico feita no sentido contrário, no sentido da libertação. Todos devemos à Mama África. Mas, só Cuba teve a audácia de pagar esta dívida com armas nas mãos!

Armas nucleares contra Cuba

A nobreza do gesto provocou o instinto assassino das chamadas democracias imperialistas. Acaba de ser divulgado que Israel ofereceu armas nucleares à África do Sul para serem lançadas sobre as tropas cubanas no sul de Angola. Com o apoio dos aviões Migs de fabricação soviética, a tropas do exército racista da África do Sul foram enxotadas de território angolano, postas para correr também do território da Namíbia, cujas forças revolucionárias também formavam aquele formidável exército de libertação. Chegou-se a discutir nas forças de libertação a ida até Pretória!

Por isto os imperialistas cogitaram o uso de armas nucleares contra o exército cubano, pois o seu exemplo de internacionalismo proletário era por demais poderoso à humanidade! Tudo isto resultou no agravamento da crise do regime de Botha, na libertação de Mandela, no fim do apartheid, nas eleições diretas, e, por fim, na conquista da realização da Copa do Mundo, pela primeira vez, em território africano! Vitória da humanidade, após tantas vitórias que abrilhantam a linda história de justiça da humanidade, unindo a Revolução Cubana à Revolução dos Cravos de Portugal! As armas nucleares não foram utilizadas daquela vez. Não se atreveram! Não se sabe se as utilizarão agora contra o Irã.

Racismo nos países imperialistas

A condenação ao racismo lida pelo nosso capitão, é atualíssima. Tem endereço. Depois da desclassificação das seleções dos EUA e da França, vimos pipocar novamente manifestações de racismo contra negros, imigrantes, árabes, hispânicos, sobretudo nestes dois países. Há os que considerem a França uma democracia exemplar, mas não querem prestar atenção nas declarações de Zidane, o craque da seleção francesa de origem argelina. Contrariando a tese dos acadêmicos pouco atentos, ele questiona a democracia francesa: “Eu posso ser campeão do mundo com a camisa da França, orgulho nacional, mas não posso eleger o presidente?”

Agora o deselegante técnico da seleção francesa atira a culpa pelo fracasso aos jogadores de origem africana, à cultura dos bairros de periferia das grandes cidades francesas. Nenhum questionamento ao sistema político francês que é tão duramente combatido pelos jovens das periferias pobres na França, sem perspectiva de estudo ou de emprego!

Nos EUA não foi muito diferente. Buscam-se justificativas para a desclassificação, mas, as vozes racistas voltam a falar alto, sobretudo contra hispânicos, asiáticos e afro-descendentes. A gigantesca contradição política vivida pelos EUA só tende a se agravar, certamente de forma dramática, já que o presidente Obama tem sido pressionado pelo complexo militar-industrial a reforçar sua presença armada mundo afora. Já mandou mais 30 mil soldados para o Afeganistão, continua a ordenar bombardeios de povoados matando crianças e destruindo alvos civis naquele país empobrecido. Esqueceu-se das torturas de Guantânamo? Manda uma frota nuclear para as proximidades da costa do Irã. Multiplica o orçamento do Pentágono. O prêmio Nobel da Paz vai se revelando o Prêmio Nobel da Guerra e continua colecionando cadáveres e mais cadáveres!

Na linha inversa, o Brasil aprova o seu Estatuto da Igualdade Racial. É verdade que com 112 anos de atraso. Há muito ainda para caminhar, mas a linha é a de continuar a abrir espaços para que os negros sigam aumentando sua presença qualificada nas universidades, para que os Territórios dos Quilombos sejam definitivamente escriturados em nome dos remanescentes dos escravos, que as políticas públicas de habitação contemplem as necessidades da população negra, ainda alvo de desumana discriminação no mercado de trabalho, recebendo ainda os piores salários, ocupando as piores funções, e, ainda por cima, confinada à invisibilidade nos meios de comunicação, salvo as honrosas exceções da comunicação das TVs públicas e comunitárias, que registram alguma justiça racial televisiva.

Rivalidades exageradas são contra a cooperação

O mau exemplo vem exatamente das TVs comerciais. Ofendem gratuitamente ao povo paraguaio ou insuflam uma exagerada hostilidade contra argentinos, certamente, fazendo um tipo de jornalismo de desintegração, exatamente quando nós latino-americanos estamos a organizar e por em prática, por meio de vários governos, políticas públicas de integração econômica, energética, comercial, cultural educacional. Seguindo as orientações dos que querem impedir que sejamos solidários e cooperativos entre nós - por acaso, as mesmas nações imperiais que antes apoiaram o apartheid e recentemente tentaram boicotar a realização da Copa na África - cria-se um clima para uma rivalidade exacerbada, agressiva, verdadeira hostilidade, por exemplo contra argentinos e paraguaios.

As nações imperiais sabem perfeitamente da utilidade destas rivalidades fomentadas, muitas vezes artificialmente. Sobretudo contra povos que possuem grande potencial de cooperação entre si, como é o caso de Brasil e Argentina, cuja integração das bases produtivas poderia acelerar e encurtar sobremaneira os prazos históricos para a integração da América Latina. Por isto fazem o jornalismo da desintegração. Pela mesma razão, são incapazes, como meios de comunicação, de informar sobre o papel que Cuba desempenhou na história recente de libertação da África.

Jornalismo de integração

As nossas TVs públicas precisam fazer o contraponto. A diversificação e a pluralidade informativas, neste episódio, seriam extremamente válidas. Sobretudo se permitisse ao povo brasileiro conhecer quanta história existe por detrás da declaração contra o racismo que o capitão Lúcio fez naquele estádio repleto de sul-africanos libertos do regime do apartheid. E também conhecer quanta manipulação se faz do esporte, em nome de causas mesquinhas e anti-civilizatórias, como as que pretendem reviver o racismo e o impedimento ideológico da cooperação e da solidariedade entre os povos que tem um destino comum. O da unidade, da cooperação e da solidariedade.

sábado, 3 de julho de 2010

Irã e Brasil: retaliações e soberania

Enquanto uma frota de 11 navios dos EUA e 3 submarinos nucleares de Israel dirige-se ao Golfo Pérsico, com a colaboração da Arábia Saudita e do Egito, para uma ameaça real e uma não descartada agressão militar ao Irã, anunciam-se retaliações contra interesses econômicos do Brasil por não concordar com as sanções impostas aquele país. Hoje o Brasil não vende etanol para o Irã, mas se pretendesse vender, aqueles que se arrogam campeões do livre comércio, não permitirão, está proibido! O artigo é de Beto Almeida.
Beto Almeida

Enquanto uma frota de 11 navios dos EUA e 3 submarinos nucleares de Israel dirige-se ao Golfo Pérsico, com a colaboração da camarilha de vassalos da Arábia Saudita e do Egito, para uma ameaça real e uma não descartada agressão militar ao Irã, anunciam-se retaliações contra interesses econômicos do Brasil por não concordar com as sanções impostas à nação persa. Diante do risco da incineração de um povo que não invadiu nenhum outro país ou sequer explora outras nações, vamos registrando aqui no Brasil a elevação de tom de algumas vozes que muito longe de clamar por uma solução pacífica, aproveita a situação de perigo, hoje encoberta pela fumaça futebolística da Copa, para condenar não as retaliações que o Brasil pode receber dos EUA, mas a política externa do Brasil por defender nossa soberania, bem como uma solução pacífica para impasses desta natureza.

Nas novas sanções adicionais que o presidente Obama anuncia contra o Irã, ficam claras as intenções de atingir vários outros países. Ou seja, que por detrás das medidas punitivas ao Irã há também o objetivo de promover guerra comercial para ampliar o controle econômico do mundo em mãos das grandes corporações transnacionais, controladoras do mando político nos EUA. Pelas sanções, os EUA não aceitarão, assim mesmo, de modo imperial, que o Brasil venda etanol para o Irã, já que o objetivo é realizar um estrangulamento econômico e energético daquela nação. Hoje o Brasil não vende etanol para o Irã, mas se pretendesse vender, aqueles que se arrogam campeões do livre comércio, não permitirão, está proibido!

Nota-se satisfação em alguns articulistas da imprensa sempre sintonizada com os poderes internacionais na maneira de tratar estas absurdas retaliações. Agora transformam-se soberania e defesa de princípios e de fundamentos pacifistas para a solução de impasses em irrealismo diplomático. Ou seja, culpa-se o Itamaraty por não se curvar à prepotência inadmissível da Casa Branca, ora ocupada pelo primeiro presidente descendente de africanos, mas, apesar da diferença da cor da pela, igualmente teleguiado pelos desígnios do Pentágono, pelo complexo militar-industrial, provavelmente a verdadeira presidência dos EUA.

Irrealismo diplomático versus realismo vassalo
Para criticar o Itamaraty e a política externa de Lula, estes porta-vozes informam, com satisfação, que empresários brasileiros ligados ao setor de defesa foram comunicados por fornecedores ou parceiros em uma grande feira internacional que seus governos “estavam reavaliando as licenças de exportação de componentes sensíveis para o Brasil”. De acordo com estas fontes, os motivos são “a posição do Brasil em apoio ao Programa Nuclear Iraniano e também dúvidas sobre a própria ação das políticas nucleares do Brasil”

Na realidade, o problema não é novo. Há um veto imperial histórico das grandes nações capitalistas que querem impedir que outras nações desenvolvam-se tecnologicamente, sobretudo quando são possuidoras de grandes riquezas minerais e energéticas, como o Irã e também como o Brasil. Não por acaso houve tantos golpes de estado na Bolívia até que um índio aymara, - ensandecido de realista dignidade e de soberania, como teria sido nosso Tiradentes - desse um basta à uma sangria secular. Para os vassalos que analisam os fenômenos políticos sob a ótica tacanha do irrealismo diplomático, mesmo depois de ter expulsado o embaixador dos EUA, a Bolívia de Evo Morales segue altiva, já sendo território livre do analfabetismo, tendo reduzido em 75 por cento o preço de gás de consumo para o consumo doméstico e tendo implantado uma renda de cidadania , tudo a partir da nacionalização corajosa e soberana de seus recursos energéticos.

Sempre houve retaliações
O Brasil também já foi alvo de várias pressões e sabotagens, muito antes de praticar este propalado “irrealismo diplomático”. Turbinas nucleares importadas por Vargas da Alemanha foram seqüestradas por militares dos EUA no porto de Hamburgo, em 1952, quando seriam embarcadas para o Brasil. Posteriormente, quando Geisel firmou convênio nuclear com a Alemanha, em 1975, estas mesmas vozes posicionaram-se, como sempre, ao lado dos EUA buscando impedir que o Brasil se nuclearizasse. A lógica deste setor de plantão é impedir que um país emergente atinja plenitude sócio-econômica. Querem que o Brasil não tenha capacidade militar, de preferência reduzindo drasticamente suas forças armadas, e, também, relegando-as à função de mera polícia de bairro. Não querem que o Brasil tenha indústria naval, nem produção de fertilizantes, o que o impedirá de ter , de fato, soberania alimentar. Este setor, que comemorou o suicídio de Vargas e depois tentou frivolamente demolir a Era Vargas desnacionalizando o que pudesse, continua de plantão.

Desarmamento unilateral
Outra prova disso é a entrevista do físico José Goldemberg, ex-ministro do governo Collor, concedida à Revista Época, cujo título intrigante, sobretudo pelo momento em que o Brasil é alvo de retaliações imperiais é “O Brasil quer a bomba atômica”. Tanto o professor como a revista são por demais conhecidos. Mas, cabe salientar a torcida que ele faz para que o Brasil assine o Aditivo ao Tratado de Não Proliferação , mesmo sabendo que isto não apenas permitira inspeções sem qualquer reserva em todas as nossas instalações de pesquisa, algo que, evidentemente, os EUA, por exemplo , jamais admitiriam. Mas, o professor quer que o Brasil se submeta inspeções sem limites. Inclusive sob o risco de perder controle sobre desenvolvimentos tecnológicos avançados e não alcançados, ainda, por outros países.

Além disso, a posição do professor expressa a consciência de que a assinatura do Aditivo do TNP implicaria na renúncia, pelo Brasil, do desenvolvimento do projeto do submarino nuclear. E o professor, como todos nós, sabe que há uma imensa riqueza petroleira submarina e que as grandes potências têm uma práxis histórica de ignorar soberanias e territorialidades. Mesmo assim ele não se constrange em revelar seus pensamentos. Por que as potências imperiais não tiveram coragem suficiente para , apesar de toda sabotagem, pressão e agressividade, impedir que a China se transformasse numa das grandes potências econômicas, sendo também uma potência espacial? Porque diferentemente do Brasil, as forças armadas da China são......armadas, O que ainda não se pode afirmar em relação à capacidade de defesa do Brasil, apesar de uma positiva inversão de rota nas políticas para o setor de defesa que ainda possui jipes e tanques utilizados na guerra da Coréia e nem pode sequer garantir o rancho para todos os recrutas.

O caso dos aviões tucanos
As retaliações contra o Brasil não surgem agora pela política atual do Itamaraty. Eles obedecem a lógica da dominação do mundo, que nunca foi um mundo para meigos. A diferença é que os que alardeiam ”irrealismo diplomático” praticaram, quando no governo, o mais vexatório realismo vassalo. Exemplo claríssimo desta disposição infinita para obedecer ordens externas: com a privatização-desnacionalização da Embraer permitiu-se que há alguns anos, antes da crise do Irã, o Brasil fosse proibido de vender 150 aviões Tucanos para a Venezuela, disposta a comprá-los. Diante do veto imperial, sob o argumento de que há nos computadores das aeronaves componentes de fabricação norte-americana, a Venezuela fez a compra na China. Com a queda nas encomendas, a Embraer colocou no olho da rua 4800 metalúrgicos. Mesmo havendo no Brasil um imenso potencial para o desenvolvimento da aviação regional. Eis o preço social de tal realismo vassalo. Retaliações não são de hoje. Indaguem-se quantas houve contra o Programa Espacial Brasileiro, para o país não consiga entrar no seleto clube das potências espaciais.

A função das TVs Públicas
O período eleitoral no Brasil coincide com o agravamento da crise mundial do capitalismo e de uma clara intenção das grandes potências de sair da crise pela vida da dinamização da indústria bélica. Isto merece todo o bom debate do mundo por parte dos meios de comunicação, mas o que se verifica, salvo honrosas exceções para uma informação mais eivada de espírito público, é uma campanha de demolição da política externa brasileira. E mesmo na TV Brasil a pluralidade de opiniões sobre este tema realmente explosivo é bastante precária, havendo na editoria internacional um mesmismo de já linha editorial que condena o Irã por não abrir mão de sua soberania. É um quase recado disfarçado para que o Brasil também devesse optar pelo realismo subalterno.

É urgente que este debate se aprofunde e se qualifique, até porque a agressão contra o Irã pode se materializar, dolorosamente. Já fizeram Hiroshima e Nagasaki! E, as retaliações contra o Brasil e outros emergentes, podem se agravar sim. Só há duas alternativas: uma, quase impublicável, da qual é partidário o professor, a de querer ver o Brasil curvar-se ante os ditames do império. A outra, irrecusável, fortalecer nossa capacidade de realizar políticas soberanas e independentes, a capacidade de estabelecer novas parcerias internacionais, baseadas na cooperação e na solidariedade. Mas, com base no realismo histórico, isto implica em ter capacidade de defesa, independência tecnológica e aprimoramento de nossa democracia, superando as enormes dívidas sociais e vulnerabilidades externas e ideológicas que ainda nos machucam como nação. Em razão disso, obviamente, a turma do mantra do “irrealismo histórico” e do desarmamento unilateral, vocalizada pelo citado professor, certamente não estará com a candidata Dilma Roussef. Ela já disse que prega a continuidade das políticas em curso e seu aprofundamento, além de referir-se a Lula como um continuador de Vargas.

(*) Beto Almeida é diretor da Telesur

quinta-feira, 1 de julho de 2010

80% dos brasileiros duvidam das notícias...



Os resultados da pesquisa abaixo dão uma boa dica dos motivos que tem levado muitos articulistas e editores do PiG (Partido da imprensa Golpista) a atacar a blogosfera independente. É que, por causa do partidarismo pró-direita e anti-esquerda que eles insistem em tentar disfarçar, a vaca está indo para o brejo. A cada dia, enganam menos gente e, de quebra, ajudam a aumentar a audiência de quem trata os leitores com respeito assumindo publicamente suas convicções e ideologias políticas...

80% dos brasileiros duvidam das notícias

A maioria absoluta dos entrevistados (57,3%) consideram tendenciosas as notícias veiculadas. 15,5% consideram a Internet o meio preferencial para obter informações, contra 6,4% dos jornais impressos e 0,5% das revistas.

- por Luis Nassif, em seu blog

Encomendado pela Secom (Secretaria de Comunicação do Governo Federal), o «Relatório de Pesquisa Quantitativa – Hábitos de Formação e Informação da População Brasileira» mereceu pouquíssima análise da imprensa escrita, apesar de já ter inspirado anúncios da Rede Globo sobre pontos que lhe são favoráveis.

Dados interessantes da pesquisa:

- A TV aberta é de longe o meio preferencial para obter informações.
- 15,5% consideram a Internet o meio preferencial para obter informações, contra 6,4% dos jornais impressos e 0,5% (meio porcento) das revistas.
- 80% dos entrevistados acreditam muito pouco ou nada nas notícias veiculadas pela mídia.

46,1% dos entrevistados afirmaram que costumam ler jornais; 34,9% lêem revistas. Dos que lêem jornais, 24,7% afirmam ler diariamente – ou seja, 11,4% do universo pesquisado. 30,4% dos leitores de jornais – ou 14% do universo pesquisado – afirmam ler em média um dia por semana.

A maior parte dos leitores de jornais está na Região Sul (54,1%) e Sudeste (52,7%). No caso das revistas, Sudeste (39,4%), Sul (38,0%) e Centro-Oeste (37,6%). O menor índice de leitores de jornais está no Nordeste (27,7%) e dos de revistas na Região Norte (29,4%) e Nordeste (30,7%).

Veja é lida pela metade dos leitores de revistas. Em seguida, bem abaixo, Época e IstoÉ. Mas apenas 0,5% (meio porcento) considera as revistas como seu meio preferencial para obter informações.

A Internet já tem alta penetração. 46,1% dos maiores de 16 anos já acessam. Desses, 66,5% a partir de sua própria residência; desses 66,5%, 65% já possuem banda larga.

Nas faixas de renda mais elevadas (acima de 10 salários mínimos), o percentual de acesso à Internet chega a 79,7%. Entre o público mais jovem (16 a 24 anos) o percentual de acesso à Internet chega a 68,8%, caindo para 14,9% acima de 50 anos.

Interessante a avaliação sobre o papel das lideranças comunitárias. 15% dos entrevistados as consideram fonte de informação. Desse total, 45,6% confiam mais nas suas informações, contra 49,6% que acreditam que as informações dos meios de comunicação (incluindo rádio e TV) são mais esclarecedoras.

Credibilidade da mídia

E aí se entra na credibilidade da velha mídia.

A maioria absoluta dos entrevistados (57,3%) consideram tendenciosas as notícias veiculadas, contra 24,3% que acreditam em notícias isentas e imparciais.

Quanto se pergunta da credibilidade dos meios de comunicação, 72,1% afirmam acreditar muito pouco; 7,2% não acreditam nada. 18,8% acreditam muito.

A população que mais acredita na mídia é a do nordeste, com 28% considerando as notícias isentas e imparciais e 25,7% acreditando muito no que é dito.

Já no Sul, comente 19,9% consideram as notícias isentas e imparciais; e meros 10,5% acreditam muito no que é dito pelos meios de comunicação.

O curioso é que dentre os consumidores preferenciais da mídia – classes de renda mais elevadas - é maior a proporção dos que consideram as notícias em geral tendenciosas e parciais.

Não significa que não consumam as notícias – 82,9% as utilizam no cotidiano e 62% admitem que, algumas vezes, mudam seus pontos de vista a partir de informações dos meios de comunicação.

Outros 26,5% nunca mudam seus pontos de vista em função das informações transmitidas pelos meios de comunicação.

Os meios mais confiáveis

Quando instados a identificar os meios de comunicações mais confiáveis, 69,4% apontam a TV aberta e 7,2% a rádio.

Em seguida vem a Internet (6,5%) acima do jornal impresso (6,3%) e das revistas (0,9%).

Veja a pesquisa completa no blog do Luis Nassif.

terça-feira, 22 de junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

sábado, 19 de junho de 2010

A pauta do desespero

Vendas de caminhões crescem 90% até maio; projeções do BNDES para investimentos já ultrapassam previsões pré-crise; vendas de cimento crescem 18% no ano; 9 fábricas cimento estão sendo construídas pela Votorantim para atender as obras do PAC e do setor habitacional; 39 shoppings centers estão em construção no país; 93% das categorias pesquisadas pelo Dieese tiveram aumento real de salário no ano passado...

É sob esse arcabouço que deve ser analisada a desesperada tentativa da Folha de SP de dar vida a um natimorto enredo de arapongas & dossiês para atingir a candidatura Dilma Rousseff. A Folha, como se sabe, é aquele veículo que falsificou uma ficha policial contra a então ministra Dilma Rousseff em manipulação rudimentar de cola & xerox atestada por peritos da Unicamp. A pauta de dossiês & arapongas inclui-se nessa receita de remendos grosseiros adotada por uma redação que já não pode cobrir fatos políticos relevantes sem cometer um harakiri editorial.

Silenciam os jornalistas da família Frias diante da acelerada voçoroca que corrói o chão da candidatura Serra, minada por disputas terminais para escolha do vice, que DEMOS reivindicam como condição para se manter na aliança, bem como diante da sangria desatada em Minas, o 2º colégio eleitoral do país, onde florescem diferentes modalidades de voto anti-serra (Dilmasia; Pimentésio...) , sem esquecer o derretimento do demotucano no 3º colégio eleitoral,o Rio, onde o namoro de Serra com o PV virou novela de traições & rupturas.

O desespero da Folha é o mesmo que inspirou o script constrangedor da propaganda eleitoral antecipada do PSDB, no horário gratuito na última 5º feira. Aspas para um trecho síntese da narrativa ‘popular adotada pelo programa: ‘...Zé Serra é um sujeito simples, de bem com a vida, de bem com seu povo...' Em seguida, numa cena de rua, o próprio Serra confirma: "Como tudo com pão'.

(Carta Maior e o pulso da candidatura anti-Lula e anti-Dilma; 19-06)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Jose Saramago, janela da alma.

Retorno à filosofia para salvar democracia

Retorno à filosofia para salvar democracia
“Todos os dias uma comédia vergonhosa que se chama democracia é encenada. Nesta comédia, pode-se debater de tudo, menos a própria democracia. A falsidade central deste modelo reside no fato de que o poder econômico é o mesmo que o poder político. O único antídoto para reverter esse mau funcionamento da democracia é construir uma sociedade crítica que não se limite a aceitar as coisas pelo que elas parecem ser e depois não são, mas se faça perguntas e diga não sempre que for preciso dizer não. Para isso, é urgente voltar à filosofia e à reflexão” (Saramago prega retorno à filosofia para salvar democracia, 20/01/2004)
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O crescimento do Nordeste...

Revista Brasileiros – n˚ 35 – junho/2010
Especial Novo Nordeste – por Ricardo Kotscho

Está Desanimado?
Venha conosco. Vamos percorrer grandes e pequenas cidades, do litoral aos sertões do Ceará, Pernambuco e Piauí

Empresários ou operários, professores ou estudantes, investidores estrangeiros ou economistas nativos, pesquisadores ou sambistas, médicos ou artistas plásticos, jornalistas ou agricultores, moços ou velhos. Quem tiver condições não deve perder a oportunidade de conhecer de perto a revolução que está acontecendo no Nordeste brasileiro, que já foi considerado a região mais pobre do País e hoje cresce em ritmo chinês, bem acima da média nacional.
Só para se ter uma idéia: nesta última década, a economia nordestina cresceu 4,2%, enquanto a média nacional foi de 2,3%, até 2009. Para este ano, a previsão é de crescimento em torno de 10%, o mesmo da China. Se o leitor anda desanimado da vida com as notícias sobre o País que são divulgadas na grande imprensa, faça como a reportagem de Brasileiros, que passou duas semanas em maio percorrendo grandes e pequenas cidades de três Estados (Ceará, Pernambuco e Piauí), do litoral do sertão, e encontrou um povo novamente orgulhoso de ser nordestino, que recuperou a autoestima e agora assiste à volta de milhares de paus de arara para a sua terra de origem, o retorno dos retirantes. Com oportunidades de trabalho e de estudo, os jovens nordestinos já nem pensam em descer o Brasil como fizeram seus pais.
Não é para menos. Nos últimos 5 anos, mais de duas mil empresas de grande e médio portes se instalaram na região, gerando 1,2 milhão de novos empregos. Segundo maior mercado consumidor do país, com um crescimento previsto de R$ 40 bilhões em relação ao ano passado, a região conta com 23 novos polos de desenvolvimento industriais e agrícolas, com destaque para o Complexo Industrial Portuário de Suape, próximo a Recife, um dos lugares mais visitados, onde encontramos em franco crescimento um novo ABC paulista, o antigo símbolo da locomotiva do Brasil.
O que aconteceu? Basta só um indicador para explicar esse Novo Nordeste que se tornou o símbolo do Brasil que deu certo: em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o Banco do Nordeste do Brasil, principal financiador dessa revolução, emprestou R$ 1,6 bilhão para novos investimentos. Em 2009, esse valor atingiu R$ 20,8 bilhões – 50% a mais que no ano anterior. Para 2010, a previsão é de R$ 30 bilhões em financiamentos para novos investimentos na região.
Com uma diferença fundamental: antes, a inadimplência no BNB chegava a 36% dos empréstimos concedidos; no ano passado, esse índice caiu para 4%, que está dentro da média nacional. Explicação de um diretor que está lá no banco desde o começo do governo Lula: “antes, quem emprestava dinheiro aqui não tinha o hábito de pagar, e o banco não tinha o hábito de cobrar…”.
Com seus 54 milhões de habitantes espalhados por uma área de 1,5 milhão de km2, a mesma da Alemanha, Reino Unido, Itália e França juntas, este Novo Nordeste é hoje dono de um mercado de consumo de R$ 390 bilhões, responsável por 14% do PIB nacional. Pensar que a popularidade do presidente Lula e da aprovação do seu governo em todo o País, que beira os 80%, se deve apenas ao Bolsa Família é uma grande bobagem. Estamos falando de uma região do País que conta hoje com 950,5 mil empresas.
Os R$ 31,5 bilhões repassados pelo governo federal para o programa Bolsa Família já geraram outros R$ 18,4 bilhões, a partir do consumo dos beneficiários, um mercado que criou 455 mil novos empregos só no Ceará. O Bolsa Família pode ter representado o pontapé inicial para arrancar o Nordeste do círculo vicioso da seca, da fome e da miséria, no primeiro governo Lula, mas a partir daí gerou outras demandas de consumo. Depois da comida, as pessoas começaram a comprar roupas e sapatos, passaram a cuidar mais da aparência, o que levou à abertura de salões de beleza e à compra de produtos de higiene pessoal, trocaram os jegues por motos. E, agora, quem poderia imaginar uma coisa dessas?! Estão até comprando carros e viajando de avião.
Claro que esse crescimento acelerado também tem suas dores: em todas as cidades e estradas por onde passamos, o trânsito piorou e o movimento de caminhões nos fez lembrar São Paulo em seus piores dias; portos e aeroportos estão congestionados; aviões voam lotados; subiram os preços dos imóveis, tanto para comprar como para alugar. Já está faltando mão de obra especializada. Um dos ícones desse progresso nordestino, o Estaleiro Atlântico Sul, em Suape, que já entregou o primeiro navio construído no Brasil nos últimos 14 anos, o petroleiro João Cândido, teve de buscar soldadores e montadores no Japão, os dekasseguis brasileiros que emigraram na década passada em busca de trabalho e agora estão voltando. Ao lado deles, trabalham profissionais formados lá mesmo, que até recentemente ganhavam a vida no corte de cana.
Investidores paulistas, como a família de Roberto Macedo, o dono do lendário restaurante Rodeio, no coração dos Jardins, reduto de quatrocentões paulistanos, onde a maioria dos funcionários veio do Piauí, agora estão fazendo o caminho inverso. Macedo e seu primo Manoel Junqueira já investiram R$ 25 milhões em uma área de 20 mil hectares em uma nova fronteira agrícola do Piauí, em reflorestamento e plantação de grãos, no Médio Parnaíba, a 140 Km de Teresina. Histórias dos novos bandeirantes se confundem com as dos velhos sertanejos, que botam fé no seu taco e vão à luta, sem medo de perder o trem da história.
Para acreditar em tudo isso, só vendo. Foi o que a reportagem de Brasileiros fez para levar os leitores a conhecer esse Novo Nordeste em textos e fotos publicados nas páginas seguintes. Deu muito trabalho, mas valeu a pena. Boa Viagem!
2.000 novas empresas
R$ 390 bi é o mercado de consumo da região
1,2 milhão de novos empregos
23 novos polos de desenvolvimento industriais e agrícolas
Previsão de crescimento da economia: 10%

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Depois de 15 anos de PSDB no governo... O desespero dos paulistanos


Desgoverno, caos e sofrimento humano na degradada São Paulo

- por Mauro Carrara*



Você também não agüenta mais viver em São Paulo? Não vê retorno nos altíssimos impostos pagos ao Governo do Estado e à Prefeitura?

Você já se cansou de passar horas e horas no trânsito? Já não suporta ver semáforos quebrados ou desregulados? Já se indigna com a indústria de multas?

Já precisa tapar o nariz para andar pelas ruas lotadas de lixo?

Já teme perder seu carro numa enchente relâmpago?

Já se apavora ao saber que a cidade praticamente não tem mais polícia, e que são suas orações que protegem seus familiares nos trajetos urbanos?

Já se questiona se o suor do trabalho não é suficiente para lhe garantir um mínimo de eficiência nos serviços públicos?

Já se pergunta por que a imprensa nunca lhe dá respostas?

Já nota que o jornal e o portal de Internet nunca lhe fornecem a explicação que você procura?

Talvez, então, você esteja no grupo dos 57% de paulistanos que deixariam a capital caso pudessem, conforme apurou o Ibope.

Talvez, esteja no time dos 87% que consideram São Paulo um lugar completamente inseguro para se viver.

Mas, afinal, como chegamos a esta situação caótica na maior cidade do Brasil?

Analisaremos questões específicas (enchentes, trânsito, segurança, entre outras) do processo de degradação da qualidade de vida em São Paulo.

Porém, comecemos pelo geral.

1) Sua angústia, paulistano, tem basicamente três motivos:

a) A incompetência, a negligência e a imperícia dos grupos que, há muitos e muitos anos, se apoderaram da máquina pública no Estado de S. Paulo. Aqui, o “capitão da província” é sempre da mesma tropa.

b) O sistema desonesto de blindagem e proteção dessas pessoas pelos veículos de comunicação, especialmente a Folha de S. Paulo, o Estadão, a Rede Globo e a Editora Abril, aquela que publica a Veja.

c) A vigência de uma filosofia de gestão pública que nem de longe contempla as necessidades humanas. O objetivo da máquina de poder, hoje, em São Paulo, é privilegiar uma pequena máfia de exploradores do Estado e da cidade. O governo dos paulistas e dos paulistanos exige demais, mas oferece de menos.

2) Em pleno século 21, os velhos políticos ainda administram São Paulo como coronéis de província. São tão arrogantes quanto preguiçosos.

a) Não temos um plano coordenado de construção de “qualidade de vida” na metrópole, que coordene ações na área de saúde, educação, cultura, transporte e moradia. Todas as outras 9 grandes cidades do mundo têm, hoje, grupos multidisciplinares trabalhando duramente em projetos desse tipo.

b) Não temos um projeto sério, de longo prazo, para reestruturação e racionalização da malha viária.

c) Não temos um sistema de transporte coletivo decente. Entre as 10 maiores cidades do mundo, São Paulo é aquela com o menor número de quilômetros servidos por metrô.

3) Por que a doce chuva virou sua grande inimiga?

a) Porque os governantes de São Paulo não pensam em você quando autorizam a construção de novos condomínios e habitações. Onde havia terra e árvores, passa a existir concreto. O solo não absorve a água, que corre desesperadamente para o Tietê.

b) Porque a prefeitura simplesmente abandonou os trabalhos de construção dos piscinões. Você tem medo de morrer afogado no Anhangabaú? Pois bem, os recentes dramas no túnel teriam sido evitados se José Serra e Gilberto Kassab tivessem seguido o projeto de construção dos reservatórios de contenção nas praças 14 Bis e das Bandeiras. Até o dinheirinho já estava garantido, com fundos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mas os dois chefões paulistas consideraram que as obras não eram necessárias. Agora, você paga por este descaso.

c) Lidar com água, uma das mais importantes forças da natureza, exige pesquisa e conhecimento. Em São Paulo, as obras são feitas de acordo com o humor dos governantes, muitas vezes em regime de urgência. Na pressa, o resultado quase sempre é desastroso. No Grajaú, por exemplo, os erros de engenharia na canalização de córregos acabaram por gerar entupimentos, enchentes e destruição. As famílias da região perderam móveis, eletrodomésticos, roupas e alimentos. Ou seja, obra sem planejamento gera mais prejuízo que benefício.

d) São Paulo tem a sua Veneza. É o Jardim Romano, que vai afundando a cada enchente. Como se trata de periferia, a prefeitura simplesmente abandonou os projetos de drenagem e captação de águas. O resultado é água imunda dentro das casas, doença e morte. Para minimizar o problema, o governo do Estado resolveu lançar um “carro anfíbio”, apresentado com pompa pelo bombeiros. Será que, não satisfeitos com o estrago, ainda querem rir da cara do cidadão?

e) O descaso com a cidade pode ser provado facilmente. Um levantamento técnico mostra que o número de pontos de alagamento aumenta assustadoramente de ano para ano. Em 2007, a cidade tinha 9 pontos fixos de alagamento. No ano seguinte, já eram 43. Atualmente, há 152 lugares por onde o paulistano pode perder seu carro durante uma chuva. É isso aí mesmo: 152! Sem dúvida, anda chovendo bastante. Mas não se pode negar que problemas de escoamento estão gerando o caos em áreas antes seguras. É o caso da Avenida Brasil com a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins. Quem podia imaginar que até mesmo a região nobre de São Paulo sofreria com alagamentos, lama e fedor insuportável?

f) O dinheiro que a Prefeitura gasta em câmeras, multadores automáticos e propaganda na imprensa poderia muito bem servir à erradicação de alguns desses problemas. No entanto, o drama da população parece não sensibilizar o prefeito nem o governador. Veja o caso dos alagamentos da Marginal Pinheiros com a Ponte Roberto Rossi Zuccolo. O problema já é grave, mas as obras nem foram contratadas, como admite a prefeitura. No caso da Zachi Narchi com Cruzeiro do Sul, na Zona Norte, a prefeitura limita-se a dizer que há um “projeto para futura implantação”. Tudo muito vago. Nenhuma pressa. No caso da Alcântara Machado (Radial Leste) com Guadalajara, a confissão oficial de incapacidade é assustadora: “as interferências não configuram possibilidades de obras para solucionar o caso de imediato”.

4) Por que São Paulo fede?

a) Porque a gestão Serra-Kassab simplesmente reduziu em cerca de 17% o investimento em varrição e coleta de lixo, especialmente na periferia. Aliás, limpeza urbana é algo que não se valoriza mesmo em São Paulo, vide as declarações do jornalista Boris Casoy sobre os garis.

b) Porque os projetos de coleta seletiva e de usinas regionais de reciclagem foram reduzidos, desmantelados ou sumariamente engavetados.

c) Porque a política de “higienização social” tem dificultado extremamente o trabalho dos catadores e recicladores.

d) Nem é preciso dizer que o lixo que se amontoa nas ruas da cidade vai parar nos bueiros. Vale notar que, nas enchentes, boa parte do lixo boiando está devidamente ensacado. Trata-se de uma prova irrefutável de que o “porco” nesta história não é o cidadão paulista, mas aquele que o governa.

5) Padarização: por que São Paulo é tão insegura?

a) O governo Serra praticamente sucateou o sistema de Segurança Pública. Paga mal os agentes da lei e ainda fomenta a rivalidade entre policiais civis e militares.

b) Em seu ímpeto privatista, o governo paulista incentiva indiretamente os empreendimentos de segurança particular.

c) Mal pagos, mal aparelhados e mal geridos, os policiais paulistas são o retrato da desmotivação.

d) Criou-se informalmente um sistema de “padarização” das patrulhas. Normalmente, os agentes da lei se mantêm na porta de uma padaria ou mercado, reduzindo drasticamente as rondas pelas áreas internas dos bairros. De certa forma, acabam se tornando uma guarda particular dos comerciantes locais. Esse fenômeno atinge não somente a periferia da Capital e de outras grandes cidades, mas também os bairros de classe média.

e) Essa mesma polícia invisível nas ruas, entretanto, ocupou o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) durante ato em defesa do Programa Nacional dos Direitos Humanos. Exigiam explicações sobre o encontro… Ora, que terrível bandido se esconderia ali? Ou será que voltamos à época da Operação Bandeirantes, que visava a perseguir os inimigos do regime militar?

f) Cabe dizer: o pouco que restou da Segurança Pública é resultado do esforço pessoal de policiais (militares e civis) honestos, dedicados, que ainda arriscam a vida para proteger o cidadão. Esses, no entanto, raramente são premiados por suas virtudes.

6) Politicalha na calçada, trânsito, impostos e desrespeito ao cidadão.

a) Sem qualquer fiscalização da imprensa, o governante paulista julga-se hoje acima da lei. Não precisa dar satisfações a ninguém.

b) É o caso da Calçada da Fama, já apelidada de Calçada da Lama, no bairro de Santa Cecília. Inspirada na homônima de Hollywood, foi condenada por todos os moradores locais. Mesmo assim, a prefeitura colocou 18 homens da Subprefeitura da Sé para trabalhar na obra (afinal, eles não têm bueiros para limpar). Cabe lembrar que os “testes” de homenagens foram realizados com a colocação de duas estrelas. Uma delas tinha o nome do ex-governador Geraldo Alckmin. A outra, do atual, José Serra, o único governador do Brasil que, entre amigos, se gaba de acordar ao meio-dia.

c) Para obras desse tipo, supõe-se, o prefeito Kassab busca um “aumentaço” no IPTU, tanto para imóveis comerciais quanto residenciais.

d) Cedendo ao cartel das empresas de ônibus, Kassab também decretou aumento nas passagens, de R$ 2,30 para R$ 2,70. A poucos metros da Câmara dos Vereadores, com bombas de efeito moral e balas de borracha, a polícia de Serra reprimiu violentamente os estudantes que tentavam se manifestar contra a majoração. Agressão desse tipo, aliás, já tinha sido vista na USP, em episódio que lembrou a invasão da PUC-SP por Erasmo Dias, em 1977.

e) Se o trânsito é cada vez mais caótico em São Paulo, raras são as ações destinadas a reformar a malha viária, revitalizar o transporte público e constituir um sistema inteligente e integrado de locomoção urbana. Os técnicos da Companhia de Engenharia de Tráfego ainda planejam suas ações conforme modelos da década de 60. A obsolescência no campo do conhecimento é a marca da gestão da CET.

f) Se o tráfego paulistano é um horror, confuso e mal gerido, o mesmo não se pode dizer da indústria de multas. Em 2009, foram arrecadados R$ 473,3 milhões, valor maior do que o orçamento de cinco capitais brasileiras. Só 62 municípios do Brasil recebem, entre todos os tributos, aquilo que o governo paulistano obtém com esse expediente punitivo.

g) Com esse valor, seria possível instalar 2 mil semáforos inteligentes (raros aqueles em perfeito funcionamento na cidade) e 40 terminais de ônibus.

h) Curiosamente, se falta dinheiro para a reforma dos equipamentos de controle de trânsito, sobra para a compra de radares e aplicadores de multas. Foram 105 novos aparelhos em 2009. E a prefeitura projeta a instalação de pelo menos mais 300 em 2010.

i) Se os radares estão atentos ao motorista, dispostos a lhe arrancar até o último centavo, também é certo que não há olhos para as máfias de fiscais nas subprefeituras, especialmente na coleta diária de propinas nas áreas de ambulantes. Em 2008, membros da alta cúpula da subprefeitura da Mooca foram protagonistas de um escândalo, logo abafado pela imprensa paulistana. Hoje, os esquemas de cobrança ilícita seguem firmes e fortes. Faturam milhões, à luz do dia, na região do Brás, da Rua 25 de Março e da Lapa, entre outros, conforme denúncias dos próprios camelôs.

7) Até para fugir, o paulistano pagará caro… Dá-lhe pedágio!

a) Alguns governantes tornam-se conhecidos por construir estradas. Outros, por lotá-las de pedágios e fazer a festa de seus apoiadores de campanha. É o caso de José Serra. Em média, um novo pedágio é implantado em São Paulo a cada 30 dias. O ritmo de inaugurações deve crescer em 2010. Somente nas estradas do litoral, o governador quer implantar mais dez pedágios.

b) José Serra desistiu temporariamente de sua ideia obsessiva de implantar pedágios também nas marginais do Tietê e do Pinheiros. O desgaste político poderia inviabilizar, de uma vez por todas, seu projeto de ocupar a presidência da República.

c) Fora dos centros urbanos, entretanto, a farra do pedágio continua. Em Engenheiro Coelho, na região de Campinas, por exemplo, uma família já precisa pagar pedágio para se deslocar de um lado a outro de seu sítio, cortado pela rodovia General Milton Tavares de Souza (SP-332). Agora, para cuidar do gado, os sitiantes precisam pagar a José Serra e seus amigos da indústria do pedágio. Nessa e em outras cidades, o cerco dos pedágios deixam “ilhados” moradores da zona rural e de condomínios habitacionais. Nem mesmo o “direito de ir e vir” é respeitado.

Como resgatar São Paulo

Nos últimos anos, São Paulo vem sendo destruída e seus cidadãos humilhados. Está perdendo seu charme e carisma. Aumenta-se a carga de impostos, ao passo que os direitos básicos do cidadão são negados pela autoridade pública.

Mas nada comove a imprensa surda, muda e partidarizada. As enchentes, o lixo acumulado, as obras inacabadas, o apagão no trânsito, a fábrica de analfabetos do esquema de “aprovação automática”, as máfias de propinas, a falta de segurança e a fábrica de multas não sensibilizam os jornalistas.

A ordem nas redações é botar a culpa na sorte, nas gestões anteriores ou em São Pedro. Nenhuma tragédia é atribuída aos governantes locais. Jamais.

Quando a cratera do metrô engoliu trabalhadores, pais e mães de família, a imprensa silenciou sobre a culpa daqueles que deveriam fiscalizar a obra.

E o prefeito Gilberto Kassab ainda se divertiu, transformando a tragédia alheia em piada. Nem a Folha nem o Estadão escreveram editoriais indignados sobre o episódio.

A imprensa também se fez de boba quando a ponte do Rodoanel desabou sobre a pista, destruindo veículos e ferindo pessoas.

Aliás, os jornais estampam enormes manchetes quando se constata qualquer atraso em alguma obra do PAC. Mas não encontram relevância no atraso das obras do Rodoanel.

Já são doze anos de embromação, casos de superfaturamento e destruição do patrimônio natural nos canteiros de obras.

Na Capital, José Serra e Gilberto Kassab criaram fama ao inventar a lei “Cidade Limpa”, uma restrição sígnica ao estilo “talebã” que deixaria os habitantes de Nova York e Tóquio perplexos.

Eliminaram praticamente toda a publicidade local e, automaticamente, canalizaram milhões e milhões de Reais para jornais, TVs, rádios e portais de Internet. Um golpe de mestres.

Portanto, aquele que sofre diariamente em São Paulo precisa urgentemente revisar seus conceitos políticos, reeducar-se para a leitura dos produtos noticiosos e mobilizar-se para viabilizar a urgente mudança. Se São Paulo pode ser salva, será você, paulistano sofrido, o artífice dessa proeza.

*Mauro Carrara é jornalista, paulistano, nascido no Brás, em 1939.

Fonte: http://tudo-em-cima.blogspot.com/

O QUE ESTÁ EM JOGO

Medidas tomadas antes da crise mundial desobstruíram os canais do consumo popular no Brasil no 2º mandato do governo Lula , mas ninguém ousava dar aos fatos o corolário redefinidor de uma nova estratégia de crescimento. Em 2008, quando o comércio internacional desabou, a metamorfose adquiriu nitidez plena e a ficha caiu.

A demanda doméstica estava ineditamente preparada para assumir a liderança da engrenagem produtiva nacional, reservando-se às exportações o papel essencial de contrapeso aos desequilíbrios externos inerentes aos grandes ciclos de expansão econômica. Não se trata apenas de um ajuste de ênfase, mas de um novo encadeamento entre forças econômicas e políticas da sociedade. Os fatos desmentiram o dogma neoliberal de que era impossível engatar o comboio do crescimento a outra locomotiva que não a do comércio exterior.

Consolidou-se assim a margem de manobra ideológica para a emergência de uma dinâmica que ganharia legitimidade progressiva dentro e fora do governo. Protagonistas desse processo, entre eles o próprio Presidente da República, viram desfilar pedagogicamente diante de seus olhos os resultados benignos de impulsos heterodoxos até então vetados pelo dogma neoliberal. É essa travessia histórica impulsionada por um crescimento de vigor e consistência desconhecidos no país nos últimos 40 anos -embalado, ademais, pela potencialidade do pré-sal, que reforça o equilíbrio das contas externas-- que adiciona frescor à candidatura Dilma Rousseff.

É ele também que impõe à sucessora de Lula a tarefa de ir além da mera continuidade, para aprofundar, injetar equilíbrio e garantir o longo curso a esse modelo. Por razões opostas, é essa mesma engrenagem que espreme o horizonte histórico do candidato José Serra a ponto de quase esgana-lo, privando-o de um discurso pertinente. Ora udenista, ora ‘lulista', mas permanentemente desprovido de um catalisador que o legitime como alternativa de futuro, Serra depende cada vez mais de uma escandalização do processo eleitoral para alavancar seu nome.

Essa guinada lacerdista é a alternativa defendida abertamente pela extrema direita que compõe a coalizão demotucana, amplificada por veículos de imprensa conhecidos. Nessa borda do desespero avulta o impasse pela escolha do vice que deve compor a chapa do conservadorismo brasileiro.

(Carta Maior, 16-06)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Aconteceu em 9 de junho


Mestre Bimba com discípulos, em torno de 1950
1937 - Dia da capoeira
Mestre Bimba (1900-74), após maravilhar Getúlio em Salvador, abre a 1ª academia de capoeira legalmente registrada. Acaba uma implacável perseguição que vem do s. 19.

sábado, 5 de junho de 2010

Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história



obs.:Selecionar português em "subtitles"

Trata-se de uma palestra dada pela escritora Chimamanda Adichie. Mas toca no assunto "se uma mentira é contata repetidamente por muito tempo, ela se torna realidade (pelo menos no imaginário coletivo). Elas nos propõe a refletir: "como essas histórias são contadas, quem as contam, quantas histórias são contadas?
"A única história cria o estereótipo. O problema do estereótipos não é que eles sejam mentira, mas sim que são incompletos".

quinta-feira, 3 de junho de 2010

"Imprensa alternativa não disputa hegemonia"

do Observatório do Direito à Comunicação

por Daniel Cassol - Por Candice Cresqui - e-Fórum/FNDC

[Título original: Assumindo-se como marginalizados, jornais alternativos não disputam a hegemonia]

A tendência da imprensa alternativa de fazer uma espécie de sociologia dos acontecimentos, optando por sempre explicar as estruturas e relações de poder por trás dos fatos, impede que os próprios fatos falem por si. Além disso, os veículos alternativos assumem a posição de marginalizados e permitem que somente os meios vinculados a grandes empresas narrem o cotidiano. Dessa forma, deixam de disputar hegemonia no terreno do moderno jornalismo. Refletir sobre as características desses meios e como eles se relacionam com a tradição dos veículos contra-hegemônicos, especialmente em um contexto de “crise das esquerdas”, foi o objetivo da dissertação Brasil de Fato: A imprensa popular alternativa em tempos de crise, de autoria do jornalista Daniel Cassol.

Em entrevista concedida por e-mail, Cassol comenta a sua pesquisa e analisa as possibilidades de se fazer um jornalismo alternativo que fuja desse padrão. A dissertação foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo (RS) no início do mês de abril, e teve a orientação da pesquisadora Christa Berger, coordenadora do programa.

Daniel Cassol graduou-se em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2003. Trabalhou com assessoria de imprensa de movimentos sociais e colabora com veículos alternativos, entre eles o Brasil de Fato. Durante o primeiro semestre de 2009, atuou como correspondente do jornal em Assunção, Paraguai.

O que motivou a sua pesquisa e como foi feita a análise?
Quem alguma vez conversou sobre comunicação alternativa certamente já se deparou com a discussão sobre a incapacidade de os veículos alternativos alcançarem parcelas mais amplas da população. Normalmente, as respostas estão em fatores externos, como a falta de recursos. Minha intenção foi refletir sobre que tipo de jornalismo os alternativos, no caso o Brasil de Fato, vêm fazendo atualmente, como se relacionam com a tradição dos veículos contra-hegemônicos e como se situam num contexto de dificuldade para as ideias de transformação. Além disso, eu considerava importante fazer uma reflexão atualizada sobre imprensa alternativa, uma vez que os estudos neste campo normalmente se voltam aos jornais do período da ditadura militar ou seguem mais os processos de comunicação e ativismo relacionados às novas tecnologias. Assim, optei por fazer uma interpretação do jornal, procurando compreender seu funcionamento, suas questões e sua relação com o contexto social.

Em que contexto social se deu a criação do jornal Brasil de Fato? Quais foram os objetivos da sua criação?
O Brasil de Fato nasce em 2003, num contexto de esperanças, mas também de um certo ceticismo. Esperanças principalmente em torno da eleição do presidente Lula, visto como uma possibilidade de retomada das mobilizações sociais, como de fato aconteceu no início. Prova disso foi o ato de lançamento do jornal durante o Fórum Social Mundial de 2003, que reuniu lideranças e personalidades, além de uma multidão que não coube no auditório Araújo Vianna em Porto Alegre. Porém, o jornal é criado exatamente para contribuir no processo de reorganização dos movimentos sociais, a partir da leitura de que a esquerda brasileira vive um período histórico de crise. Guardadas as diferenças em relação aos períodos históricos, o Brasil de Fato

- Crise das esquerdas -

Você menciona uma crise das esquerdas. Como ela se configura?
O próprio jornal é criado em torno desta ideia: a esquerda brasileira vive uma crise de valores, práticas, organização, pensamento e estratégia política. Trata-se de um processo amplo, cuja origem é antiga, e que se caracteriza pelo ataque às organizações dos trabalhadores, o esvaziamento de sindicatos, a burocratização e o pragmatismo de partidos de esquerda, além de um abandono de antigas práticas. Por isso, o Brasil de Fato se apresenta como um instrumento para superação da crise, a partir da retomada da formação política, do trabalho de base e das lutas sociais. O jornal debate a crise da esquerda e acaba desenhando uma espécie de mapa das lutas e dos atores sociais que considera mais urgentes e importantes, promovendo uma agenda mínima para os movimentos sociais. Porém, mais que fragilidade das forças sociais, o que vivemos é uma crise das alternativas. Boaventura de Souza Santos tem uma ideia interessante: a hegemonia não se dá mais pela imposição dos interesses da classe dominante como se fosse algo bom para toda a população, mas porque não existe alternativa. As coisas são do jeito que são porque não há alternativas, eis uma noção muito presente nos discursos dos administradores políticos, por exemplo. Um contexto em que o pensamento alternativo é tratado como inviável acaba impondo muitas dificuldades para a imprensa de resistência ao pensamento dominante.

Como o jornal sobrevive, há sete anos, nestes tempos de crise?
Minha pesquisa toca pouco nas questões administrativas e políticas do jornal, pois minha opção foi sempre compreender que tipo de jornalismo é feito pelo Brasil de Fato. Mas é possível dizer que a existência de uma unidade mínima em torno do jornal, liderada pela Consulta Popular (saiba mais) e pelo Movimento Sem Terra (MST), garante a permanência do Brasil de Fato ao longo dos anos. Além disso, há que se destacar o trabalho profissional dos jornalistas da redação, que superam o amadorismo tradicional dos alternativos e mantêm a periodicidade e a qualidade necessárias. É claro que, nestes sete anos, o jornal enfrentou suas próprias crises internas, em razão da eterna falta de recursos, mas de fato é impressionante como o jornal se mantém vivo após sete anos, se constituindo numa das experiências mais longevas de jornal alternativo no Brasil.

- Jornalismo popular alternativo -

Por que você classifica o jornal de “popular alternativo”?
Basicamente, porque esta denominação dá conta das especificidades de um jornal como o Brasil de Fato e afasta incompreensões. O termo “imprensa alternativa” tem problemas: é datado historicamente, porque se refere mais aos jornais de resistência à ditadura militar. Além disso, sob “alternativa” se inscrevem diferentes tipos de comunicação. Da mesma forma, somente “jornal popular” pode confundir com os jornais chamados “sensacionalistas”. A professora Cecília Peruzzo sustenta que a comunicação popular alternativa é aquela que está inserida no contexto dos movimentos sociais. Além de atender essa característica, o Brasil de Fato traz em sua linha editorial a defesa das classes populares e de um projeto de país. Ao mesmo tempo, tem uma certa vocação para se tornar uma imprensa de interesse geral, uma vez que aborda temas diversos e tem a pretensão de disputar espaço com os jornais de referência. No entanto, não vejo problemas em se utilizar a expressão “jornal alternativo”, já consagrada. Para efeitos da pesquisa, foi uma forma de precisar a natureza do jornal.

O Brasil de Fato vive, segundo o seu estudo, a tensão entre sua vocação massiva e o recuo para uma postura de resistência. Diante disso, qual é o público do jornal?
Creio que esta é uma das dificuldades enfrentadas pela imprensa popular alternativa como um todo. Estes jornais convivem com o desejo de falar ao leitor comum, para convencê-lo; com a pretensão de desafiar os adversários políticos, para reafirmar as posições; e com a necessidade de conversar entre companheiros, a fim de afinar discursos. Disto decorre, a meu ver, uma indefinição no contrato de leitura estabelecido entre o jornal e seu público, na medida em que este é difuso. O Brasil de Fato, também por sofrer a crise, foi reduzindo sua intenção de se tornar massivo e diário para voltar-se a uma postura mais de resistência.

O jornal terminou por reproduzir o jornalismo alternativo clássico? Quais são as suas diferenças em relação ao dito jornalismo?
O que existe é uma tradição de se fazer jornalismo desde uma perspectiva contra-hegemônica, que vem desde o início do século XX, a partir de leituras mecânicas de alguns textos esporádicos escritos sobre jornalismo, por Lenin, Trotsky, Gramsci e pelo próprio Marx. O Brasil de Fato, como herdeiro legítimo, não poderia deixar de apresentar algumas marcas desta tradição. Em resumo, historicamente a esquerda promoveu uma certa instrumentalização do jornalismo em nome de sua visão política, ignorando aok!té mesmo a potencialidade desta forma de conhecimento sobre a atualidade. O jornal é tomado, muitas vezes, como um instrumento para a orientação política das massas e, desse modo, só publica aqueles temas considerados necessários à denúncia dos inimigos de classe e à politização dos trabalhadores. Algo que está presente no Brasil de Fato e em outros veículos alternativos atuais é uma tendência a fazer quase uma sociologia dos acontecimentos, optando por sempre explicar as estruturas e relações de poder por trás dos fatos, impedindo que os próprios fatos falem por si e tirando a autonomia dos leitores.

O jornal apresenta uma visão estática do povo, reduzindo-o ao conflito de classes?
Creio que este é um problema crônico da imprensa de esquerda, que tem a ver com esta tradição de que falei antes e aparece, em parte, no Brasil de Fato. Foi o pesquisador chileno Guillermo Sunkell que, ao analisar os jornais populares do Chile no período do presidente Salvador Allende, apontou que os discursos daqueles jornais interpelavam apenas espaços, atores e conflitos considerados politizados ou politizáveis pelos partidos de esquerda. Assim, o operário fabril era visto como o agente da transformação social, enquanto outras parcelas da população eram esquecidas pelos jornais populares. Disso resultava essa visão estática da ideia de povo, ou seja, povo era o operário em um conflito econômico com seus patrões. Para Sunkell, estes jornais acabavam marginalizando outras parcelas da população e, também, deixando de lado a realidade subjetiva do povo e outros aspectos da realidade popular, como a religiosidade, a vida em família, o lazer. O resultado era a incapacidade de expansão destes jornais. No caso do Brasil de Fato, por ser de uma época diferente, os espaços, atores e conflitos contemplados por seus discursos são outros. O operário fabril dá lugar, principalmente, a populações que luta em defesa dos seus territórios e de recursos naturais, em conflitos que poderíamos dizer mais estratégicos. Nota-se também que o jornal dá voz prioritariamente ao povo organizado em sindicatos, movimentos e associações. Povo, para o Brasil de Fato, é povo em luta. Os inimigos é que não são apenas os patrões ou latifundiários, mas principalmente as grandes transnacionais.

- O papel do jornalista -

Quais os caminhos dos jornalistas para mudar isso?
Talvez um caminho seja fazer mais jornalismo. Apesar de todas as críticas que podemos fazer à atividade, o jornalismo tem fundamental importância na medida em que nos provê de informações sobre os diferentes aspectos da atualidade. É através do jornalismo que organizamos uma determinada visão de mundo, com informações desde as condições das ruas e das paradas de ônibus de nossa cidade até as grandes questões estratégicas de política internacional, por exemplo. Mas a imprensa alternativa, historicamente, se dedica somente àquelas pautas que interessam à conjuntura imediata ou estratégica das organizações sociais. Assim, como dizia Adelmo Genro Filho, deixa de disputar hegemonia no terreno do moderno jornalismo, ou seja, assume esta posição de estar à margem e permite que somente os veículos vinculados a grandes empresas narrem o cotidiano.

Você conhece alguma outra experiência de jornalismo alternativo que fuja desse padrão?
O próprio Brasil de Fato representa um esforço do jornalismo popular alternativo se reinventar. Considero uma experiência exitosa, não só por sua longevidade, mas porque tenta encontrar uma nova linguagem necessária para estes tempos de crise, principalmente em sua página na internet. Logicamente, vive problemas das mais diferentes naturezas e passa por dificuldades para se expandir hegemonicamente. Mas, dentro dessa ideia de um jornalismo capaz de abordar os diferentes aspectos da atualidade e da vida em sociedade, acho importante analisarmos experiências como o do jornal La Jornada, do México, a RadioCom, de Pelotas, a Rádio Viva, de Assunção, no Paraguai, e a Radioagência NP, parceria do Brasil de Fato de São Paulo. No seu conjunto, não são veículos de esquerda, mas tem um “lado”. E não se furtam de falar de assuntos do cotidiano, do buraco na rua, dos cuidados com a saúde, dos resultados do futebol, temas que historicamente foram ignorados por não serem politizáveis. São alguns exemplos de possibilidades que me ocorrem agora.

O que a esquerda poderia fazer para ter um jornalismo diferente?
Aqui volto ao Adelmo Genro Filho, que no livro “O Segredo da Pirâmide”, cujas idéias são incompreendidas na mesma medida em que não são lidas, propôs uma “teoria marxista do jornalismo”, que vem sendo atualizada por alguns autores. Em resumo, correndo o risco de reduzir a complexidade, Adelmo Genro Filho sustentava que o jornalismo é uma forma de conhecimento capaz de revelar o que a realidade tem de singular. E o singular tem sua potência na capacidade de revelar os aspectos particulares de determinado acontecimento e nos levar à compreensão do universal. Ou seja, o autor apostava na potencialidade do jornalismo e refutava sua instrumentalização. Talvez este seja um dos caminhos a serem considerados por quem faz jornalismo alternativo. Há que se considerar a possibilidade de realização de um jornalismo informativo contra-hegemônico, que reconheça a presença da ideologia não como uma limitação da atividade, uma vez que a apreensão da realidade objetiva só se dá na relação dos sujeitos com a realidade – sendo esta, inclusive, riqueza deste processo –, mas que não se reduza à mera propaganda desses pressupostos políticos. Gosto de uma ideia do Adelmo Genro Filho, que encerra essa aposta nas potencialidades do jornalismo: ele diz que o jornalismo, por mais que tenha sido gestado ao longo do desenvolvimento da sociedade capitalista, supera a mera funcionalidade ao sistema, porém “não é reconhecido em sua relativa autonomia e indiscutível grandeza”. buscou desempenhar de certa forma um papel de “jornal de frente”, reunindo diferentes organizações sociais.